domingo, 21 de abril de 2013

tropeço

"Aquilo que amas bem permanece,
o resto é desperdício
O que amas bem não será arrebatado de ti
O que amas bem é a tua verdadeira herança"...
Ezra Pound in Cantos  LXXXI 
mulher adormecida sob a árvore - odilon redon

despiram-se
mas não tiveram intimidade
porque libertaram-se das vestes
mas não criaram laços

engoliram-se
com a boca, com os olhos
mas não quiseram ir além
tropeçaram na superficialidade

tatearam-se
percorreram caminhos
fizeram mergulhos rasos
nas águas que fluíam

a vida se tornou banal
cada um em seu canto
cada desejo apagado
e o riso silenciado

em meio ao sonho e a fantasia
entre tantas alegorias
delírios por todo lado
ficou o devaneio acordado!

---------

Olinda - XXVI - III - MMXIII

até pensei, chico buarque

11 comentários:

  1. "despiram-se
    mas não tiveram intimidade
    porque libertaram-se das vestes
    mas não criaram laços

    engoliram-se
    com a boca, com os olhos
    mas não quiseram ir além
    tropeçaram na superficialidade

    ....

    a vida se tornou banal"

    Este excerto que transcrevo
    é uma construção poética
    profunda
    adulta
    inteligente
    forte
    que me provocou um imenso impacto

    Bjo.



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    1. Fico muito feliz e grata com sua análise, Filipe, como sempre, és muito observador e atento à minha escrita, e isso é motivo de grande honra para mim, dado ao seu profundo conhecimento, além do grande e excepcional poeta que és.

      Obrigada pelo seu comentário, saber que minha escrita, comum, sempre despretensiosa, lhe impactou.

      Um beijo!

      ;))

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  2. Olá, Cantinho

    Um encontro de dois seres em que a comunhão de sentimentos, a alma e o coração não se encontram envolvidos... Caminhos que não se cruzam.

    Quis ouvir aqui o meu querido Chico Buarque mas não deu som nenhum. Então, fui à procura dele e desta música tão linda, tão calma que não conhecia. Obrigada

    Interessantes as tuas leituras. Já li 'A Queda'.
    Os dois últimos volumes assinalados como 'Bíblia' e 'Bíblia2' mostram bem a tua predilecção,não é?

    Minha amiga, muito obrigada pelas tuas visitas e comentários sempre tão bem construídos e oportunos. São palavras que muito me sensibilizam.Não tenho podido responder, mas espero poder fazê-lo em breve.

    Beijinhos

    Olinda

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    1. Uma relação é sempre uma mão dupla, é sempre uma dialética, sem a participação de ambos, não existe nada. Foste no cerne do poema, pois se trata mesmo disso, desses desencontros todos de todos os dias, na vida de tantos. Poderíamos até dizer que o texto fala de um esbarrão, do que propriamente de um encontro, que pressupõe outros sentidos e sentimentos, não é mesmo?

      Não lhe enviei ainda a página do Chico (adoro toda a sua discografia, assim como os livros)??

      A Queda está sendo minha reeleitura, a primeira que vez que o li, já faz tanto tempo, e senti necessidade de re(lê)vê-lo... Há uma atmosfera muito sarcástica no ar, o 'mundo' anda meio desleixado, existencialista que sou, o Camus (assim como Sartre) têm sempre ótimas respostas para minhas tantas indagações, daí a escolha. Quanto aos demais, Alexandre O´Neill está na mesma linha do João Cabral, nunca deixo de lê-los, estão mesmo na minha cabeceira, preciso consultá-los, diariamente, daí serem bíblias, assim como, História da Vida Privada no Brasil, pois a temática é de meu grande interesse.
      É sempre uma alegria sabê-la, aqui ou no Xaile, agradeço a amizade, e a sua sempre disponibilidade, e nem se preocupe com a falta de tempo, sei muito bem como é isso. Qualquer tempo é tempo bom para saber de ti.

      Um beijo grande!!

      ;))

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  3. Pouco envolvimento, muito sentimento e muita poesia, lindo, Val, como sempre.

    bjo

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    1. É isso mesmo, Rodrigo, compreendeste perfeitamente!

      Obrigada!

      ;))

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  4. No ciclo das marés

    a vida não é feita
    só de carne e osso

    por vezes é mesmo inexplicavel
    e talvez por isso um desafio inestimável

    Bjs

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    1. E talvez por isso tão extraordinária...?

      Obrigada pela presença, Eufrázio, beijo!

      ;))

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  5. Despiram-se olharam-se e não houve intimidade !!!!!!
    Medo,falta de confiança ,receio para não se magoarem!!!!!
    Engoliram-se com a boca e com os olhos e não passaram essa barreira!!!!!
    Talvez não sentiram os pés bem assentes no chão,insegurança!!!!!
    A vida tornou-se banal cada um a seu canto!!!!!
    Provavelmente falta de confiança ou certezas!!!!
    Belo poema para reflectir,pensar e tirar conclusões.
    Linda esta música do Chico Buarque,obrigado por este poema lindo Val.
    Beijo

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    1. Capaz que seja tudo isso, Carlos, ou não... Infelizmente para mim, que adoro ouvir histórias, pedaços de histórias, nos lugares mais inusitados, não pude ficar até o fim para saber do desfecho dessa narrativa. Entretanto não deixa de ser uma oportunidade para cada um de nós refletirmos sobre a nossa própria vida, de fato, tens muita razão.

      Confesso que vibro quando pego um fragmento da biografia de alguém e dou um final, ou uma continuidade, de acordo com o tom, com a amoção do discurso...

      E o Chico é o Chico, né? Dispensa mesmo comentários, e obrigada eu por sua presença sempre tão querida, desejada e carinhosa aqui no Canto, beijos!

      ;))

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  6. Uma grande poeta é sempre uma grande observadora da vida, e uma excepcional contadora de histórias, e isso sabes ser muito bem, Boca.

    Beijo.

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