terça-feira, 9 de abril de 2013

nossa tragédia em cinco atos

"Que faria eu sem este mundo sem rosto sem perguntas
Onde o ser só dura um instante e onde cada instante
Transborda para o vazio o esquecimento de ter existido"



(protagonizamos com naturalidade, alheios aos sinais, uma tragédia em cinco atos)

1º ato


a espontaneidade do encontro

e as conversas à toa
as mais despreocupadas
tudo que a imaginação inventa

2º ato


as palavras traçadas

foram traçando vontades
provocando encantos
o muito ainda era tão pouco...


3º ato

a voracidade do verbo reverberando na alma

desejo rasgado
rabiscado em versos
riscado na carne

4º ato


por entre risos & bocas

beijos & vinhos
sôfregos, entorpecidos 
sob o signo da cobiça & embriaguez

5º ato


mas eis que numa quinta-feira singular

sem porquês, ou talvezes, num desses revezes da vida
abate-se sobre nós uma agonia, um silêncio de morte 
silente negror, cai o pano, o espetáculo acabou:

fim!



------

Olinda - VIII - IV - MMX

a diviníssima nina simone canta (a-d-o-r-o essa música), feeling good 







22 comentários:

  1. mais uma vez me surpreendo e me rendo ao seu talento, poeta, gosto de todos os atos, menos o quinto, o último ato , isso de acabar, dói

    bjo, Val

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    1. Exagerado, rs.

      Obrigada, Rodrigo, finalizar algo algumas vezes não é o que se quer, mas nem sempre o fim é algo ruim, tudo pode renascer, recomeçar. Tudo é tão cheio de possibilidades...

      Beijo!

      ;))

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  2. Você é DEMAIS, Val. Tocante e real. Chega a doer.

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    1. Eita que eu fico é feliz com a sua sempre tão querida e "imparcial" - haha- opinião, Maninha! Nunca sabemos onde o real termina e começa a ficção, mas seja no teatro, seja na poesia, seja na vida, tudo é transitório, não é mesmo?

      Beijão!!

      ;))

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  3. Toda a peça é um intervalo

    que no início se inicia

    até que o termo termine

    " numa quinta-feira singular

    sem porquês"


    A verso sempre se abate sobre nós

    Bjo.

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  4. Tudo sempre um dia chega ao fim... Sempre, porque recomeçar sempre também é preciso. Sair da zona de conforto é atestar que se está vivo, não é mesmo, Filipe?

    Quiçá a vida seja o nosso maior e mais importante verso...

    Beijão!

    ;))

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  5. Na verdade relativa de todas as coisas
    abre o pano
    cai o pano
    o tempo passa

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  6. Na verdade relativa
    de todas as coisa
    abre o pano
    o pano cai
    não existe pano

    o tempo passa

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    1. Passa o tempo, mudam-se os atores, o palco se move e tudo se revive!

      Obrigada pela presença, Eufrázio!

      ;))

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  7. Belo poema em cinco actos com quatro transmitindo muita verdade e realidade.
    Discordo do ultimo acto,a vida continua não se apaga não é o fim,outros dias virão,quem sabe um dia o espectáculo real da vida não vai dar oportunidade ao 6º 7º ou mais actos e essa tragédia não uma bela historia!!!!

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    1. Obrigada, Carlos, há uma verossimilhança entre a escrita e a vida...
      Com relação à sua discordância, é sempre saudável, a isso, chamamos diálogo e através dele é que vamos nos reconhecendo e aos nossos interlocutores, e acabamos por solidificar as relações (ou não)... Alegra-me sua fé, gosto de pessoas que acreditam na vida e nas suas possibilidades, embora a minha racionalidade não me permita acreditar tão veemente assim, mas sigamos assistindo e atuando nesse espetáculo infindo e surpreendente que é a vida, pois não?

      Grata pela sua presença!

      ;))

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  8. Na vida, acontece muitas vezes que o último acto fica fora de cena.
    E, na maioria dos casos, nem ao quarto chega...
    Mas o poema é excelente. Gostei. Porque retrata muito bem uma faceta das nossas vidas.
    Tem um bom resto de domingo e uma boa semana.
    Beijo.

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    1. Cada história com um enredo, não é Barcelli? No fundo atuar é o que dá sentido à algumas existências...

      Boa semana para ti também, e obrigada pela presença!

      Beijo!

      ;))

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  9. muitas vezes o fim e no 5º acto, outras e logo no 1º, mas que seria de nos se a vida fosse so uma tragedia sem actos, só instantes de um vazio.

    beijo e um sorriso

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    1. Talvez venha daí, da imprecisão, a necessidade de estarmos em constante reescrita, em intermináveis atuações nesse tablado inconstante e nada linear que é o palco da vida, não é mesmo Carlos?

      Obrigada pela presença sempre, querido!

      Um beijo e sorrisos!

      ;))

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  10. Densa. Profunda. Sentimentos capitulados em estações. Só não enxergo fim. Enxergo círculos, ciclos, senoides. O entorno evolui. Espirais ascendentes, descendentes, de idas e vindas. Retorno. Inteligente. Pronto! - Opas™

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    1. R.! Há quanto tempo, há quanto!? Entre susto e surpresa, sinto uma grande alegria em lhe "rever" (Syane sempre pergunta de ti), grande mesmo!

      (Em poucas palavras me definiste, me "conheces razoavelmente", rs)

      Qando me refiro ao fim, é mesmo ao fim dessa encenação, é preciso cair o pano, essa simbologia é necessária para a mudança da peça, dos atores e até de palco, e então interpretamos outras histórias, novas situações...

      Tão bom saber de ti, não me deixes mais tanto tempo sem notícias, sim?

      Um beijo, saudades!

      ;))


      P.S.
      Viste qual o último livro na minha listagem das leituras do mês (na verdade, ele é de cabeceira)?

      PS.2
      No Acre??

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    2. Vi sua "biblia", e voei sem asas. Nada como entrar na história, conhecer o "pequeno" para que ele nos explique o "grande". Continuo lendo e relendo (aos modos do "Nelsão") a História do Povo Brasileiro (Janio Quadros e Afonso Arinos), detalhando e somando com a grande obra de Varnhagen (desenterrei em um sebo - sempre os sebos). Porém, nada comparado às observações e aos modos de Calvino, que uma grande Professora me ensinou a ler. Escrevo em breve. Opas™

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    3. Voos, por um tempo todo avião que cruzava os céus do Recife me faziam olhar pra cima...
      Continuo apaixonada pela "Nova História", a "Micro História", a "História Oral", e todas as narrativas que envolvem o sujeito "anônimo"... Não tenho ido aos sebos, o tempo anda exíguo demais.

      Calvino, eternamente Calvino, continuo com a mesma paixão por ele - e a cabeceira com quase todos os livros de Clarice, e lidos, e rabiscados, e estudados, sabes dela também, não sabes? -, acrescentei ainda Mia Couto e José Eduardo Agualusa, tenho mergulhado em África, cada vez mais, e outros autores especialmente da África Lusófona... Escreve sim, vai ser tão bom te re-(ver)ler de novo...

      ;))

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  11. Um poema-peça de teatro. Assim como a vida, temos também os nossos capítulos. Profundo, Boca, como sempre.

    Beijo.

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    1. Pois sim, por isso a 'vida imita tanto a arte', rs.

      Obrigada pela visita, Sylvia, beijão!

      ;))

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Prazer tê-lo/a no Canto, obrigada pela delicadeza de dispor do seu tempo lendo-me. Seja bem-vindo/a!

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