terça-feira, 6 de novembro de 2012

novena

"Diante do crucifixo
eu paro pálido tremendo
´Já que és o verdadeiro filho de Deus
Desprega a humanidade dessa cruz"!
Murilo Mendes in  A Tentação

self portrait - bridget tichenor

não desfio o rosário
não tateio as miçangas
não conto o terço
tampouco canto incelências
salmodio meus mortos em silêncio

não entoo antífonas
vou esgarçando meus rosários
conta a conta
esfiapadas como a esperança
ressequida nos olhos da ilusão

em comedida reverência
ante a penitência
ex-votos enfileirados
na poeira perfilados
sonho a sonho realizados

recomeça(mos) a novena!

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xxx - x - mmxii

quinteto armorial - romance de minervina  (romance nordestino do século xix)

28 comentários:

  1. Olá Canto,
    Quanta verdade...."desprega a humanidade dessa cruz"!

    Faz-me lembrar o meu post ("cada um com a sua").

    Beijinho

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    1. Quem quiser que se engane que não, não é mesmo, JP?

      Beijo!

      ;)

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  2. Trago a esperança esfiapada
    e os olhos ressequidos da ilusão.

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    1. E trazes também o privilégio da sua presença, Herculano!

      ;)

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  3. Ah, Val, deu vontade de não comentar, porque só estou falando contigo por aqui. Telefone toca e depois vejo, já foi...depois ligo...nem sinal.
    Sinal que da falta de tempo, da falta de espaço ou simplesmente da falta?
    Venho aqui e vejo, sinto como estás grande, gigantesca! Meu Deus! Dá até vontade de chorar.
    Nos últimos dias, final das noites ou madrugadas que tem me restado, ando vagueiando: Barro Cru é só lindeza, Inscritos em Pedra ao mesmo tempo que me cala, me condena, fazendo-me escrever e aí tem você que nem sei dizer, minha amiga Val.
    Vai ver que a vida é também isso: um ciclo de novenas, de rosários desfiados...
    Beijão.
    Magna

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    1. Pois sim, e insisto no retorno, uma hora vinga que eu sei.
      Estava cheeeeeiiiia, imensa de "quefazeres", já os fiz, ando quase carregando pedra, na hora do meu descanso, mas quem sabe na FLIPORTO? Quem sabe? Quem sabe noutras Sementeiras?

      Ainda não sei dizer no Geó, é preciso um preparo espiritual, e estou nesse terreno, mas eu vou e volto como as águas das marés, um dia estarreço de vez, lá em Silvinha.

      Vi o seu novelo, e tão logo consiga, vou me enovelar nele também.

      Beijo, Magna e acha um tempo aí, vá?


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    1. E nem mesmo os deuses estão salvos dessa inexorabilidade..

      ;)

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  5. De leitura em leitura vou conhecendo seu blog .

    Que a poesia sempre nos acompanhe.

    Longo abraço !

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  6. É de uma tristeza, mesmo com uma esperança no fim

    Bjs

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    1. (A tristeza é também (um outro) lado da alegria: uma existe para suster a outra!)

      Beijos, querido!

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  7. Nove vezes a face nos assola
    Nove rostos que assomam em memória
    Nove terços repartidos entre partes
    Nove versos que se formam como preces

    Bjo.

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    1. Nove vezes li essa estrofe
      Nove vezes fiquei sem saber
      Nove vezes me perdi
      Nove vezes tentei e não consegui lhe responder


      Beijo, Filipe!

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  8. Ter fé, é acreditar!
    Esperança, é o crer que se pode receber a concretização dos sonhos.
    Sonhos...

    Gostei.


    Beijos


    SOL

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    1. (Embora saibamos quão difícil é manter a fé e a esperança, não é SOL da Esteva? Mas sigamos!)

      Obrigada, beijo!

      ;)

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  9. há um quanto surrealismo na imagem que gosto! Que recomecemos as novenas e não esqueçamos os sonhos! Os nossos sonhos, são eles que nos permitem e dizem que devemos continuar. Em frente é caminho e um ser humano através das suas múltiplas facetas, pode ser um vencedor!

    Beijinho!

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    1. Enquanto for possível, sonhemos, é isso, Alexandra!

      Obrigada pelas palavras e pela presença, volte sempre!

      Beijo!

      ;)

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  10. Teu poema não é uma Novena, é um verdadeiro sermão, Canto. E dos bons!
    beijo, guria!

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  11. Vou roubar-te algumas palavras do teu lindo poema

    Nua, ignis, gema, ranhuras, fogo, descontinuação

    Nua em tuas ranhuras gema
    Ignis de gema: fogo
    Gema de ranhuras, nua
    Descontinuação de fogo, ignis.

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    1. Podemos brincar com as palavras e criar tantas possibilidade, não é Vítor Fernandes?

      ;)

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  12. Nossa, Boca, que poema, viu? Não alardeia as mortes, tantas que vivemos durante a nossa vida. Recomeçar a novena, recomeçar a vida todo dia.

    Beijo!

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    1. Que até viramos craques em renascimentos, não é Sylvia? O que é a vida senão esse eterno re-começar?

      Beijo!

      ;)

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  13. Minha querida

    Há aqui todo um ritual perante a morte,um ritual que faz parte da vida porque destinado principalmente aos vivos. E porque é que o 'eu' se exclui e prefere recolher-se, salmodiar os seus mortos em silêncio? E isto também acontece quando não entoa antífonas, porque estas requerem a participação de mais que uma pessoa. Aparentemente só, com os seus ex-votos, de sonhos realizados, mas ainda com a esperança esfiapada nos olhos da ilusão, é recomeçar a novena... (o quadrado de 3, o terço, o rosário).

    O 'eu', os seus manes, o seu Deus.

    Tela impressionante! Excelente selecção.

    Beijos

    Olinda

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    1. A morte e suas etapas, e penso que é preciso vivê-las, cumprir os ciclos e depois a ressurreição, rs

      Esse eu é um eu-coletivo, das multi-facetas do ser, e vai colecionando ex-votos, promessas cumpridas, e prometendo mais, é um círculo vicioso, e cheio de ilusões...

      Bridget Tichenor me impressiona, e quando vi essa que figura no poema, não tive dúvidas em ilustrar a Novena.

      Beijos, Olinda!

      ;)

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