"não posso eu mesmo construir até o fim minha história de
amor: sou seu poeta (o recitante) apenas quanto ao começo; o
fim dessa história, assim como minha própria morte, pertence aos
outros"
Roland Barthes in Fragmentos de um Discurso Amoroso. p. 144
imagem colhida na internet
A minha querida amiga, Euza Noronha, me ensinou e ensina muito sobre a vida e a generosidade. Gostava quando ela fazia uma poesia e nos desafiava ao exercício da intertextualidade, e que agora vos convido a fazê-lo também. Começo com o poema do Filipe Campos Melo, a partir do meu, faca, estejam à vontade e será um prazer l(t)ê-los aqui.
Afia a faca junto ao pulso
alisa a imóvel pedra
onde desesperada
esperas
Faca que faca afia,
a frio
Laminando o verso
Silenciando a fala
Corta do fio,
O fio
Sustém a hemorragia
Interrompe o curso do rio
E a fadiga
A fadiga
A incumprida vida
Filipe
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F aca afiada com botões de rosas
A
paradas nas roseiras podadas
C
om desvelo de jardineiro e
A
mor pelas flores
F
aca em palavras proferidas
A
margas, rancorosas e
C
om magoas espalhadas
A
correr nas calçadas
F
aca com o gume
A
fiado e
C
ortante
A cortar as alvoradas
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A dureza da vida,
da pedra,
da faca,
enchendo o vazio,
que
muitas vezes
nos deixa por um fio,
diante da fadiga
da nossa existência
Rodrigo
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Faca que cega e emudece
Faca que sangra, quando chora
Faca que cansa, quando adormece
Faca que manha a deusa aurora
Faca de Val
Que de tão intensa
Gera tantas outras facas
Faça
Faca
A diferença é o cedilha nesta santa ortografia
Cedilha que acarinha
Abençoa
E amacia
Cedilha de ação, de abraço e de cansaço
Cedilha-louvação
Para tão estonteante FACA.
Magna
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nina simone - don´t let me be misunderstood
muito bom!
ResponderExcluirtenho pavor de facas, mas podemos usar a palavra faca e lhe dar outro sentido.
gostei muito!
parabéns ao Filipe
para ti um beijo com carinho.
Obrigada por estares aqui, Pi, beijinho e carinho para ti também!
ExcluirA dureza da vida, da pedra, da faca, enchendo o vazio, que muitas vezes nos deixa por um fio, diante da fadiga da nossa existência
ResponderExcluirBjs
Beijos, Nego, obrigada pela presença!
ResponderExcluirMaravilhoso poema!
ResponderExcluirBoa semana!!!
Obrigada, Rui e para ti uma semana maravilhosa também!
Excluir;)
A faca é piedosa se cortar o mal pela raiz; maldosa, se ameaçadora. Perigosa se saída numa palavra.
ResponderExcluirMuito para meditar e ponderar.
Abraços
SOL
Quantos sentidos podemos dar ao instrumento e à palavra faca, pois não, Sol da Esteva?
ExcluirObrigada por teres estado aqui.
Abraço!
;)
ResponderExcluirQue nunca te doam as facas
mas... tem sempre uma à mão
(nem que seja para não saber o que fazer com ela(s), não é Eufrázio? rs)
Excluir
ResponderExcluirMúltiplos são os caminhos das palavras (multiplicadas)
Diversos versos que se expandem como ecos reflexos
Uma experiência muito interessante de inequívoca qualidade
Bjo.
ResponderExcluirCanto da Boca, minha amiga
Uma excelente iniciativa que trouxe ao nosso convívio estas belas 'facadas' de gente competente e de muita inspiração. A do Filipe arrepiou-me pela sua intensidade. A Piedade com a sua faca cortando alvoradas mostra bem como a liberdade e a esperança nos podem ser roubadas. O Rodrigo leva-nos a reflectir sobre o cansaço que algumas vidas alcançam. E a Magna, ah! a Magna, com o seu cedilhado, dá-nos a mão e conduz-nos pelas coisas doces e mágicas da vida a que faca nenhuma poderá fazer mossa.
Minha cara, estás muito bem acompanhada, estás rodeada de gente de talento!
Beijos
Olinda