sábado, 13 de outubro de 2012

facas

"não posso eu mesmo construir até o fim minha história de 
amor: sou seu poeta (o recitante) apenas quanto ao começo; o 
 fim dessa história, assim como minha própria morte, pertence aos 
outros"
Roland Barthes in Fragmentos de um  Discurso Amoroso. p. 144

imagem colhida na internet

A minha querida amiga, Euza Noronha, me ensinou e ensina muito sobre a vida e a generosidade. Gostava quando ela fazia uma poesia e nos desafiava ao exercício da intertextualidade, e que agora vos convido a fazê-lo também. Começo com o poema do Filipe Campos Melo, a partir do meu, faca, estejam à vontade e será um prazer l(t)ê-los aqui. 


Afia a faca junto ao pulso
alisa a imóvel pedra
onde desesperada
esperas

Faca que faca afia,
a frio

Laminando o verso
Silenciando a fala

Corta do fio, 
O fio 
Sustém a hemorragia
Interrompe o curso do rio

E a fadiga
A fadiga

A incumprida vida

Filipe

---------

F aca afiada com botões de rosas
A paradas nas roseiras podadas
C om desvelo  de jardineiro e
A mor pelas flores

F aca em palavras proferidas
A margas, rancorosas e
C om magoas espalhadas
A correr nas calçadas

F aca com o gume
A fiado  e
C ortante
A cortar as alvoradas

-----

A dureza da vida, 
da pedra,
da faca, 
enchendo o vazio, 
que
muitas vezes
nos deixa por um fio, 
diante da fadiga
da nossa existência

Rodrigo

------

Faca que cega e emudece
Faca que sangra, quando chora
Faca que cansa, quando adormece
Faca que manha a deusa aurora
Faca de Val
Que de tão intensa
Gera tantas outras facas

Faça
Faca

A diferença é o cedilha nesta santa ortografia
Cedilha que acarinha
Abençoa
E amacia
Cedilha de ação, de abraço e de cansaço
Cedilha-louvação
Para tão estonteante FACA.

Magna

------

nina simone - don´t let me be misunderstood


12 comentários:

  1. muito bom!
    tenho pavor de facas, mas podemos usar a palavra faca e lhe dar outro sentido.
    gostei muito!

    parabéns ao Filipe

    para ti um beijo com carinho.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Obrigada por estares aqui, Pi, beijinho e carinho para ti também!

      Excluir
  2. A dureza da vida, da pedra, da faca, enchendo o vazio, que muitas vezes nos deixa por um fio, diante da fadiga da nossa existência

    Bjs

    ResponderExcluir
  3. A faca é piedosa se cortar o mal pela raiz; maldosa, se ameaçadora. Perigosa se saída numa palavra.
    Muito para meditar e ponderar.


    Abraços


    SOL

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Quantos sentidos podemos dar ao instrumento e à palavra faca, pois não, Sol da Esteva?

      Obrigada por teres estado aqui.

      Abraço!

      ;)

      Excluir

  4. Que nunca te doam as facas

    mas... tem sempre uma à mão

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. (nem que seja para não saber o que fazer com ela(s), não é Eufrázio? rs)

      Excluir

  5. Múltiplos são os caminhos das palavras (multiplicadas)

    Diversos versos que se expandem como ecos reflexos


    Uma experiência muito interessante de inequívoca qualidade

    Bjo.

    ResponderExcluir

  6. Canto da Boca, minha amiga

    Uma excelente iniciativa que trouxe ao nosso convívio estas belas 'facadas' de gente competente e de muita inspiração. A do Filipe arrepiou-me pela sua intensidade. A Piedade com a sua faca cortando alvoradas mostra bem como a liberdade e a esperança nos podem ser roubadas. O Rodrigo leva-nos a reflectir sobre o cansaço que algumas vidas alcançam. E a Magna, ah! a Magna, com o seu cedilhado, dá-nos a mão e conduz-nos pelas coisas doces e mágicas da vida a que faca nenhuma poderá fazer mossa.

    Minha cara, estás muito bem acompanhada, estás rodeada de gente de talento!

    Beijos

    Olinda

    ResponderExcluir

Prazer tê-lo/a no Canto, obrigada pela delicadeza de dispor do seu tempo lendo-me. Seja bem-vindo/a!

b17

Os cães não ladraram  os anjos adormeceram  a lua se escondeu. Dina Salústio em   Apanhar é ruim demais imagem colhida na internet, d...