domingo, 30 de setembro de 2012

faca

"Seja bala, relógio,
ou a lâmina colérica,
é contudo uma ausência
o que esse homem leva".
(Ou Serventia das Ideias Fixas)
E o Filipe Campos Melo declamou, gravou e editou meu poema

faca na pedra
de amolar
alisando a pedra
dura
de esperar

faca no rio
faca que corta
o fio
o pavio
o pulso

faca que afia
na carne
faca falo
sexo
sangria

faca só lâmina
fria
no brilho
tira delgada
e a fadiga

da vida
que não se cumpre
da faca
em mãos quase vazias
como o vazio que ficou

quando nasceu o dia

----------

XXX - IX - MMXII

pedro abrunhosa e sandra de sá - eu não sei quem te perdeu


34 comentários:

  1. A faca é neutra: temos é de ter atenção a quem a usa.


    Gostei do post.

    Bom domingo

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    1. Perfeitamente, São, a faca por si, é inerte, o seu uso é que faz a diferença, melhor não poderia ser dito!

      Obrigada pela visita e pelos votos, desejo-te igualmente um ótimo domingo!

      ;)

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  2. Faca no rio faca que corta,quando usada pela pessoa e momento certo deixa-la seguir os seus extintos.
    gostei,justa homenagem a esta linda música.
    beijo

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  3. (algumas vezes seguir os instintos é perigoso, até fatal...não achas?)

    Beijo!


    ;)

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  4. Oi CB!

    Na criminologia forense, os crimes cometidos com facas têm sempre uma componente sexual. Por isso entendi bem "faca que afia/na carne/faca falo/sexo/sangria".

    Nunca desapontas: este foi mais um belo poema (forte, macho) :D.

    Beijoss

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    1. Compreendeste integralmente o poema, Max, a intenção dele foi exatamente chamar a atenção para esse tipo de violência, cujos índices são bem altos por aqui.

      Obrigada pela presença, beijinhos!

      ;)

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  5. Gostei deste pormenor:

    faca que afia
    na carne
    faca falo
    sexo
    sangria


    Beijo[ta]

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    1. Obrigada, Jotinha por ter gostado e por ter aqui estado!

      Beijo!

      ;)

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  6. Afia a faca junto ao pulso
    alisa a imóvel pedra
    onde desesperada
    esperas

    Faca que faca afia,
    a frio

    Laminando o verso
    Silenciando a fala

    Corta do fio,
    O fio
    Sustém a hemorragia
    Interrompe o curso do rio

    E a fadiga
    A fadiga

    A incumprida vida


    ...

    (talvez me tenha desviado do poema, mas as palavras têm sempre múltiplos caminhos)

    _____________________


    Sublinho a força (poderosa) do poema,
    devidamente reforçada pelo verso curto
    e adequadamente enquadrada pela harmonia fonética
    (muito presente mas de forma cuidada)
    tornando-o num poema que reclama uma boa declamação,
    sublimando-o

    Gostei mesmo muito, como se lê

    Bjo

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    1. Filipe, eu gostei por demais desse diálogo de poemas, uma interação que a poesia proporciona, e tu sabes bem fazê-lo. Usaste as mesmas palavras, e deste um novo ritmo, um novo sentido e criaste outra obra.

      Deste-me a ideia de propor aos demais que aqui visitam, criarem outros textos, tomando o meu como base, e vou publicá-los aqui. Que achas?

      Estou bastante agradecida pelo valor que deste ao meu poema, e pela delicadeza de ter dado a sua voz e o seu ritmo a ele, obrigada!

      Um beijão!

      ;)

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  7. Um poema pleno de força, impetuoso...que faz tremer...que faz temar!

    Bj e desculpa as ausências...
    BShell

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    1. Blue, querida, entendo as demandas nossas de cada dia, não se preocupe. Apenas desejo que tudo esteja bem.

      Um beijão!

      ;)

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  8. um poema forte, e embora fale de facas (tenho pavor) é algo que tem a ver com algo passional, de que não irei entrar em detalhes.

    gostei no entanto da mensagem.

    um beij

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    Respostas
    1. Sim, forte como a vida e definitivo como o tempo das paixões!

      Obrigada, Pi, beijinho!

      ;)

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  9. Doce criança do tempo...Na noite, no oceano que nos separa, talvez até num arco-iris, me traz aqui, pra te ver sorrir, chorar, sonhar...Como tenho saudades daquilo tudo que não vivemos...
    Beijos minha bela.
    Adoro você.

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    1. Jota Pê! Algumas pessoas vivem eternamente dentro de nós, e se nesse lugar estão é porque vivem em cada gesto, em cada riso, em cada movimento nosso!

      Sempre vou sentir saudades suas, sempre!

      Beijos, querido!

      ;)

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  10. Um poema vigoroso, Boca. Aparentemente simples mas cheio de simbologias.

    Beijo

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    1. Obrigada, Sylvia, é verdade, ele têm mesmo simbologias.


      Beijo!

      ;)

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  11. Venho desejar uma excelente semana...
    Bj

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  12. Bom dia, Canto da Boca

    O mote representado pelos versos de João Cabral Neto leva-nos ao fundo de nós e pomo-nos a interrogar-nos: o que será esta ausência? Ausência de sentimentos ou vazio na alma pela desilusão da vida, esse vazio de que falas, quando ela não se cumpre?
    Talvez de tudo um pouco, como se vê no teu poema tão fino, tão elegante, abordando uma palavra, um tema difícil e, contudo, não deixas de focar todos os momentos em que uma faca pode fazer estragos no fio, no pavio, no pulso... e, ainda, faca falo.

    Magistral esta tua abordagem, minha amiga.

    Beijinhos

    Olinda

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    1. Talvez de todas as ausências a mais dorida, seja a em que nos ausentamos de nós próprios, quando desistimos e ou abrimos mão dos nossos sonhos, dos nossos desejos, e de tudo aquilo que faz com que sejamos nós, as nossas particularidades, ante um mundo tão vazio. Suas indagações são sempre pertinentes, Olinda, querida.

      E repare bem como sou atrevida, usar uma palavra com tantos sentidos, e ainda por cima, trazer João Cabral, o meu poeta-mor de todos os poetas, para meu acanhado poema. Mas que bom que gostaste, isso me alegra, por demais!

      Um beijão!

      ;)

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  13. Poema forte. Corta como uma faca

    Bjs

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    1. Existem tantas facas a nos sangrarem... Essa é só mais uma, rs


      Beijinhos!

      :)

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  14. Faca que cega e emudece
    Faca que sangra, quando chora
    Faca que cansa, quando adormece
    Faca que manha a deusa aurora
    Faca de Val
    Que de tão intensa
    Gera tantas outras facas

    Faça
    Faca

    A diferença é o cedilha nesta santa ortografia
    Cedilha que acarinha
    Abençoa
    E amacia
    Cedilha de ação, de abraço e de cansaço
    Cedilha-louvação
    Para tão estonteante FACA.

    Beijão, Val.
    Magna

    ResponderExcluir
  15. Faca que cega e emudece
    Faca que sangra, quando chora
    Faca que cansa, quando adormece
    Faca que manha a deusa aurora
    Faca de Val
    Que de tão intensa
    Gera tantas outras facas

    Faça
    Faca

    A diferença é o cedilha nesta santa ortografia
    Cedilha que acarinha
    Abençoa
    E amacia
    Cedilha de ação, de abraço e de cansaço
    Cedilha-louvação
    Para tão estonteante FACA.

    Beijão, Val.
    Magna

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  16. É um espetáculo esse exercício de intertextualidade, momento em que cada um põe a sua verve criativa e a sua forma de dar significado e sentido a este simbólico objeto.

    Belo, Magna e muito obrigada pela presença querida!


    Beijão de saudades!

    P.S.
    Concordo com o e-mail, vamos convocar a Fabi (que sei vai querer também).

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  17. Val, estou atrasada em tudo ou quase tudo. Só agora ouvi o Filipe declamar. Misericórdia. Diz para ele vir para um dos nossos saraus...aqueles que estão difíceis de acontecer de novo, mas vão.
    Beijos.
    Magna

    ResponderExcluir

Prazer tê-lo/a no Canto, obrigada pela delicadeza de dispor do seu tempo lendo-me. Seja bem-vindo/a!

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