segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

relicário*



"Em todas as ruas te encontro
Em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura"

                             Mário Cesariny 
mário cesariny - penélope corre ao encontro de ulisses

hoje eu acordei assim guardando os sentimentos e as lembranças num relicário, no santuário da memória e do coração, destino sagrado onde as coisas gratas se concentram, se renovam e se transformam. lugar em que nada está desacompanhado, recordações e honrarias dignas da mais nobre monarca, sem nenhuma dose de casmurrice, mas de desvelada alegria, do que me sustêm nos tempos de escassez, um manancial particular onde na hora da sede e da fome, me alimento e me nutro.
uma gaveta onde guardo meus dias, e os melhores acontecimentos, os essenciais e únicos, aquilo que foi palpável e aquilo que o desejo toca. nele estão até os meus mais doces suspiros, do que vivi e do que não consegui viver, mas passa a ser uma doce ilusão, e esta também cabe nesse retábulo de emoções. nesse espaço guardo especialmente as minhas não desistências, que me deram grandes alegrias nas vivências, nada incomum ou excepcional, mas a simplicidade de um sorriso espontaneo, o brilho do olhar apaixonado, a leitura dos livros que desejei ler e li, dos encontros realizados, das noites de lua e céu estrelado, das conversas noites adentro, daquele outono distante, daquele sorvete de pistachio, e especialmente do seu riso enamorado e os seus olhos resplandecentes.

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XV - X - MMXI

*da 'séria série': cartas de penélope.

nando reis canta, dele, relicário, em paceria com a cássia eller. 

40 comentários:

  1. Receptáculo de coisas boas da vida, coisas simples, preciosidades, jóias do mais puro quilate a coroar a tua fronte de rainha, Penélope! No transcorrer dos dias ensolarados e das noites enluaradas ou mesmo outonais, suporte condigno de sonhos, desejos e ilusões...Ditoso Ulisses que tal Penélope tem! Risos, enamoramento e cumplicidade não faltarão.

    Minha querida,apaixonei-me por este texto tão doce e delicado. A partir de uma ideia, de uma palavra, do conteúdo de uma tela, levas-nos a um patamar lírico só comparável com os grandes poetas.

    Obrigada por estes momentos.

    Beijinhos.

    olinda

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    1. Olinda, palavras de ouro que estarão guardadas nesse relicário!

      Obrigada por tão magistral inferência, que só as grandes pessoas que constroem as grandes poetas, sabem fazê-las.
      Um beijo grande e sua presença aqui é que é o melhor momento, obrigada!

      ;)

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  2. Boa! Leio apenas coisas estanques de certos autores tais com Cesariny, Haruki Murakami, entre outros...

    Muito bom!

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    1. O importanate é estar em contato com a obra, com o pensamento e se deixar impregnar, recriar, sentir...

      Obrigada pela presença, Marcell!

      ;)

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  3. registo intimista. como quem cultiva jardins secretos...

    belíssimo.

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    1. É preciso ter uma estufa para as orquídeas, nem que seja no secreto da alma.

      Obrigada por estares aqui!

      ;)

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  4. Santa Boca,

    Gostei do nome da série: Cartas de Penélope...

    O texto passa aquela impressão de algo antigo, distante, nostálgico, mas que vive, ainda vive, forte e silencioso por causa de expressões como "destino sagrado", "nobre monarca", "desvelada alegria", "doces suspiros", "retábulos de emoções", "outono distante" e por aí vai.

    Gosto desse traço nostálgico, desse tom melancólico e dessa sensação de um amor irresistível ao tempo. Estou ansioso por ver a continuação da série.

    abraços,

    Dimas

    Beijos,

    Dimas

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    1. Tudo vive, né Dimas, ainda que no espaço da memória.

      Confesso-me fã e íntima da melancolia, sem nenhuma ponta de solidão. Gosto desse sentimento de languidez, tristeza vaga e comedida, indefinida que ela nos dá...

      Em breve penélope escreverá cartas outra vez.

      Prazer imenso ter você aqui, Dimas.

      Abraço e beijo!

      ;)))

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  5. Foi aquecimento para o Dia de S. Valentim...

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    1. O bom seria se o espírito do dia de São Valentim, acompanhasse todos os enamorados, todos os dias, não é mesmo, Carlos?

      Przer ter você aqui, obrigada pela presença!

      ;)

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  6. E a memória de novo... Esse doce relicário, nossa vida.
    Beijo

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    1. A memória sagrada e colada à pele. A memória sempre, Geó!

      Beijo e que grande prazer você aqui.

      ;)

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  7. Não existem amanhãs sem boas memórias

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    1. Elas que são tão nossas companheiras...

      Obrigada pela presença sempre honrosa, Eufrázio!

      ;)

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  8. Estas recordações boas tornam-nos a vida mais leve e permitem que arvoremos aquele sorriso que tanto conforto nos dá!
    Como gostei de te ler e de te ver assim nostalgicamente sorridente...

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    1. Caro amigo Manel, bom mesmo é ver que gostaste do que escrevi, além da sua presença querida aqui nesse Canto.

      Obrigada, viu?

      Beijinhos!

      ;)

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  9. Boa tarde
    No blog da amiga Olinda vi um excerto de um poema dedicado à mãe, de que gostei muito, e por isso vim vê-lo na íntegra. Valeu a pena! É muito belo.
    Com a minha mãe, infelizmente já falecida, aconteceu-me muitas vezes ser ora filha, ora mãe dela. Talvez por isso este poema me tocou particularmente.
    Dei uma olhada pelo blog, não muito demorada ( o tempo é curto...) e agradou-me muito. Vou fazer-me seguidora e voltar sempre que possível.
    Um beijo

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    1. Olá, Mariazita, seja bem-vinda ao Canto, muito prazer em recebê-la aqui.

      Quando temos a nossa mãe, penso que vivemos sempre essa ambiguidade, não é? Ser e ter mãe, é mais uma dualidade em nós, essa complexidade humana que somos.
      Super agradeço a sua visita e junto a um pedido de desculpas, andei completamente ausente daqui, esses últimos dias, estou atualizando as minhas leituras, daqui a pouco eu chego no seu blogue.

      Um beijo grande e mais uma vez obrigada por ter vindo ao Canto, a casa é sua, volte sempre!

      ;)

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  10. Memória a toda a prova com tudo o que é bom.
    Belíssima carta.
    Beijo, querida amiga do canto...

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    1. Pena que nem tudo que é bom dura o sempre que gostaríamos, talvez daí venha a memória boa?

      Barcelli, amigo, ando tão ausente, mas comecei a atualizar as minhas leituras. Obrigada pela presença sempre querida, um beijão!

      ;)

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  11. Texto suave, sereno e gostoso de ler… Uma junção de poesia, prosa e música; pouquinho de cada coisa que somado aos seus tesouro guardados, se transformam nesse lindo relicário. Beijus

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    1. Bela inferência sua, Luma, sem contar com a sua luxuosa presença aqui no Canto, obrigada viu?


      Um beijão pra ti!

      ;)

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  12. Que lindo, Val! Acho que todos nós temos um lugar assim pra guardar nossas coisas mais preciosas. Com especial gosto li:"nesse espaço guardo especialmente as minhas não desistências". Isto é fabuloso!
    Beijão!
    E boa festa de Momo.
    Magna

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    1. Acho que sim, penso que é um pouco o lugar para onde também vamos, quando queremos preservar a nossa sanidade, será?

      A minha obstinação diante de certos sonhos, é que faz a diferença, não desistir é uma questão de sobrevivência para mim...

      Fabuloso é saber que existes, minha querida amiga, e que sua vinda aqui nesse Canto é sempre tão especial!

      Um beijão!!

      ;)

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  13. Minha querida
    São feitas de cheiros e de lembranças, umas doces e outras menos, é disso que são feitas essas gavetas que guardamos no mais profundo de nós.

    Deixo um beijinho com carinho
    Sonhadora

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    1. Sim, Sonhadora, penso que seja isso: o lugar onde nos guardamos e o que nos fez (e ainda faz) sentido.

      Um beijinho para ti e muito obrigada pela sua presença no Canto!

      ;)

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  14. mantém, bem conservado, esse espaço onde tudo vais guardando!
    nele, tens tudo o que te realizou.


    a...té

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    1. Pois sim! Ali está o meu memorial de/em todos os sentidos...

      Obrigada pela vinda ao Canto!

      "a...té"!

      ;)

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  15. Cartas de amor, de amigo, simplesmente cartas onde desenhamos nossos sentimentos, nossas ansiedades, onde nos despimos e expomos, que saudade tenho de escrever e receber cartas de amor...
    Um beijo.

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    1. Sim, querida Baby, é mesmo o nosso "desvelar", ou revelar o que se vai no coração.
      Ainda mantenho o hábito de escrever cartas e enviá-las, a internet ao mesmo tempo que facilitou a comunicação, nos afastou desse universo da escrita mais romântica (?), e de expectativas pela espera, a chegada de uma carta...

      Um beijo grande, ótimo final de semana e sempre muito esperada a sua vinda aqui, como uma carta afetiva da amiga muito querida que és!

      ;)

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  16. Ah, minha cara: esta coisa de relicário sentimental nalgum lugar da alma, pra mim, é coisa de gente muito organizada e zelosa! Eu, que sou um destrambelhado, com tantos papéis e sentimentos espalhados sem ordem alguma, às vezes me alegro com memórias boas, às vezes choro sentado em desolação de duras lembranças... Queria ter este baú de coisas boas, setorizado, feliz, para a ele sempre acorrer quando a garganta se fechasse... Que bom pra você, que sua Poesia seja sempre facilmente encontrada num lugar preciso! Meu abraço! E apareça!

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    1. Ao menos na ficção, ele o é: setorizado, organizado, compartimentado, porque na vida real, na vida real mesmo, Dil, é um espalhafato só. Quem sabe começando pela escrita a organização não deságue para fora do papel?

      Estou tão desorganizada com as minhas visitas, mas agora (ainda com lentidão, o tempo tá sumindo), estou atualizando as leituras dos blogues que tanto gosto... Obrigada pela paciência, pela presença e pela amizade!

      Um abração!

      ;)

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  17. na gaveta guardamos tanta e tanta coisa, até memórias.

    gostei de ler.

    beijo

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    1. Na gaveta guardamos um mundo, não é Pi??

      Gosto mesmo é de lhe ver aqui no Canto também!

      Um beijinho e um delicioso final de semana!!

      ;)

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  18. Guardou preciosidades que convivem em harmonia, independente do que um dia já representaram. Lugar de onde se tira, vez ou outra, disposição, aprendizado, alegrias e saudade. Se há melancolia feliz, poderia dizer que se juntou aos tesouros que acaba de expor.
    Grande beijo!

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    1. Feliz também é esse seu comentário tão precioso, e acima de tudo, sua amizade e presença no Canto, querida Marilene. Estou atrás de tempo para poder visitar meus blogues preferidos, ando tão sem ele... Desculpe a minha ausência!

      Um beijão!

      ;)

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  19. Um lugar para guardar o que vale a pena, nunca pensei nisso, mas você, sábia, sempre na frente. Bonito o que você escreveu, Branca.

    Bjs

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    1. Obrigada, querido, suas palavras e presença são sempre queridas!


      Um beijo!

      ;)

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  20. As "relíquias" são, mesmo, para manter bem guardadas, aconchegadas ao peito que, com seu calor, as mantém vivas! Belíssimo!
    Beijo e bom fim de semana!
    jc

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    1. Pois sim, não é Quicas? Em tempos de escassez, essas relíquias nos mantém serenos, saciados.

      Obrigada pela presença e pelas palavras!

      Beijo e tenhas um dia lindo!

      ;)

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Prazer tê-lo/a no Canto, obrigada pela delicadeza de dispor do seu tempo lendo-me. Seja bem-vindo/a!

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