domingo, 5 de fevereiro de 2012

"mulher ao luar"

"Momentos há em que quebro, caio e me afundo.
No abismo de pesadas penas, 
Existo na saudade de mim".

ismael nery - mulher ao luar

naquela noite não se importou com o frio
recolheu-se em si
aquietou-se na janela

olhar parado, sem brilho
- moldura de pedra -
crispado no infinito

e repassou a vida como num filme
mudo, em preto e branco
ou como se estivesse folheando - sem ver -

as folhas de um álbum
separadas por papel manteiga
com fotografias amareladas, em sépia

envelhecidas, como a sua alma
apesar do luar e do cheiro de jasmim
que cortavam o ar como uma lâmina

impossível não sentir aquele frio na espinha!

-------
 * podem lê-lo no seu blogue porta sonhos, e o fragmento poético foi recolhid do seu livro: Na Utopia Sou Pofeta, recomendadíssimo!

XX - I - MMXII

sempre ele, chico buarque, numa parceria com o tom jobim, retrato em branco e preto

48 comentários:

  1. Chico Buarque sempre arrasa =) ...adorei a citação inicial

    ;**

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    1. Sempre, o Chico é "inadjetivável", risos... E o Filipe? O Filipe é um extraordinário poeta!

      Beijo!

      ;)

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  2. um belissímo poste
    poema e imagem
    tudo em harmonia

    uma boa semana!

    um beij

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    1. Obrigada, Pi, por tudo!

      Beijo e ótima semana para ti também!

      ;)

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  3. Maravilha de palavras, um encanto essa citação!

    Mts parabéns.

    Bj

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    1. Se não conheces o Filipe, Rui, super-recomendo, é um grande poeta!

      Obrigada pela presença e pelos votos!


      Beijo!

      ;)

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  4. Minha querida,

    momento de recolhimento com tudo de feição, a lua, a noite, o frio, a proporcionar um fino ambiente romântico, no meio de recordações que a colocam, a 'mulher ao luar', entre o fio da navalha e o arrepio na espinha...

    e eu ficaria por aqui a ler-te, a ler esta tua forma de escrever poesia, acompanhada pela arte e pela música.

    Beijos

    Olinda

    P.S.

    Muito obrigada pelos esclarecimentos que me levaste sobre o 'Frevo d'Olinda', e os sites que me indicaste. Hoje vi num blog que eu sigo, Misturação, notícias sobre o Bando das Virgens de Verdade, de Olinda, inseridas nas festas de Carnaval.. Fui ler... :)Achei interessante a designação e o conceito.

    Bjs

    Olinda

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    1. E quantas vezes isso é recorrente em muitas, em tantas mulheres e homens também, não é mesmo? Recolher-se, em alguns momentos é a preservação da sanidade....

      Carnaval aqui é uma coisa séria, risos. Mas as manifestações culturais, folclóricas, não estão apenas inseridas nesse contexto, mas é para além, é a nossa identidade, fico muito contente que se interesses pelas nossas coisas, por nossa riqueza multicultural.

      Um beijão enorme, e grata pela presença!

      ;)

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  5. Menina... tu escreves estas lindezas, depois fica falando de mim... ôxe. Fico até embaraçada... e que lindo o poema do Filipe Campos Melo. Vou seguir tua recomendação e visitá-lo em seu porta sonhos. Beijos.

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    1. Fabi, já disse milhões de vezes, a sua escrita me deixa maravilhada... e muda!
      Vai sim ler o Filipe, vais adorar, no nosso próximo encontro, levo o livro dele, para você dar uma lida!

      Beijão, menina-palavras-pontes!

      ;)

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  6. Na verdade há frios

    que se sentem

    a preto e branco
    em todas as estações

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  7. O verso que nos ergue é o mesmo que nos dobra

    Obrigado por tuas palavras e referências, que honram minha escrita

    Bjo.

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    1. Pois somos um dia sol, noutro chuva; sombra e luz, tu existe em nós mesmos, pois é isso, Filipe, meu grande poeta!

      Sou eu quem agradeço, tudo!

      Beijo!

      ;)

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  8. A gente é que sente um frio na espinha só de te ler. Lindo!

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    1. E eu daqui emocionada com tanta presença linda, querida e carinhosa!

      ;)

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  9. apesar do luar e do cheiro de jasmim
    que cortavam o ar como uma lâmina


    Demais isso.

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    1. Não mais do que essas duas linhas terem lhe tocado.

      Obrigada por estares aqui, Caju, prazer imenso, volte sempre, o Canto é seu!

      ;)

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  10. poema desnudado e cristalino. como reflexo de luar sobre a noite... fria!

    beijo

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    1. Poesia que deslumbra, isso é você, M. Quanta sensibilidade na observação do meu poeminha...

      Obrigada, sua presença aqui me honra...

      Beijo!

      ;)

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  11. Felizmente que há recordações que continuam a arrepiar-nos de uma forma linda!
    E tu sabes dizer isso de uma forma cândida e cheia de ternura!

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    1. E você sabe como nos emocionar e nos cobrir de delicadezas!

      Tão bom te ter aqui, Manel, obrigada, viu??

      Beijo!

      ;)

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  12. Oi Val,

    Li o teu último post, mas como estou com dificuldades em comentar em certos blogues (com secções de comentários embutidos), resolvi enviar-te o meu comentário directamente (se quiseres, podes publicá-lo em meu nome no teu blogue):

    Oi CB,

    "e repassou a vida como num filme/mudo, em preto e branco (..)"

    É assim mesmo! A vida passa-nos diante dos olhos como um filme a preto e branco...sem côr, sem som, sem emoções...frio como um iceberg. Lindo!

    Lindo, lindo, lindo este poema!! :D

    Beijos

    Max
    -------
    MAX: Dissecting Life & Society
    Etnias: O Bisturí da Sociedade

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    1. Max!

      Pois, somos seres com memórias, elas nos fazem, refazem, perfazem, ora nos recobre de frio, e nos encurrala numa zona de silêncio, que nada arranca desse lugar, só a poesia! rs

      Querida, obrigada pelas palavras, pela presença, por tudo!

      Beijão!

      ;)

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    2. Que bela esta singela perda fria, diante da janela, diante dos álbuns passados... Perfeito, sem precisar de edições, viu, rs?! Meu abraço e apareça, que tem Cinema em dose dupla por lá!

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    3. Perder parece ser sempre frio, Dil, ainda mais quando não depende de nós.
      Tua opinião é da maior importância e será sempre bem-vinda, rs.

      Abração, voltarei lá, tou tentando atualizar minhas leituras dos meus blogues queridos.

      ;)

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  13. Arquitetei-me frente ao PC e pasmei ao lê-lo!

    Belo poema, prezada amiga!

    Sigamos em frente!

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    1. Marcell, a quietude é uma condição primordial para a leitura dele, fizeste bem.

      Obrigada por estares aqui. Sigamos!

      ;)

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  14. Existem momentos em que não se sente o frio.
    Momento perfeito.
    Beijo

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    1. Ainda que lá fora esteja gelado. Sim, tens razão.

      Obrigada por estares aqui Manuel.

      Beijo!

      ;)

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  15. Excelente: o poema...a tela...a música...tudo!
    Obrigada por este amanhecer...
    BS

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    1. Obrigada eu, Blue, pelas palavras, pelo carinho e pela presença!

      Um beijo grande e um ótimo final de semana!

      ;)

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  16. Detesto-te, por ser sempre tão pura, intensa, apaixonante. Invejo-te, por me descobrir em tua poesia. No final, acho que ainda te amo...No final dos dias, me escondo neste "Canto", buscando um pouco de ar, pra uma alma murcha e envelhecida.
    Beijos linda!!

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    1. Jota Pê, esse amor é daqueles que nunca morrem, pois obedecem apenas à razão, ou por outra, limitou-se apenas ao que desejamos que ele fosse. Mas independente das nossas especulações, ele existe (e resiste) numa dimensão, ainda que tenha se passado mais de meia década...
      Gosto de saber que meu Canto te alimenta e oxigena tua alma!

      Tenho tantas saudades de ti, não desapareça por tanto tempo, sim? Me faça sentir que estás perto de mim, nem que seja para você se (re)descobrir em minha poesia.

      Beijos, querido, muitos beijos para ti!

      ;)

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  17. Eu sempre me acho suspeito na hora de comentar, porque gosto de tudo que vc escreve, Branca.

    Bjo

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    1. Isso me alegra, Nego, tenho a certeza de que verdadeiramente gostas, percebo isso em teu olhar.

      Um beijo grande, grandão... Muito bom ter você por perto, muito mesmo!

      ;)

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  18. Minha jóia...volto para agradecer tuas palavras de apoio, de carinho...te abraço com a mesma força e ternura que te abraçaria se estivesse ao pé de ti.
    Um obrigada pleno de afeto.
    BS

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    1. Blue, você é uma querida, e quero estar sempre perto de ti. Jóia rara, espelho de emoção e sentimentos. Honra-me tê-la no Canto, ter suas palavras, especialmente saber-te no mundo!

      Obrigada, viu? Sinto esse abraço tão forte e verdadeiro, um beijo imenso de carinho e admiração!

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  19. Val, já fui e vim aqui várias vezes, sem atinar muito bem o que dizer. Assim, desisti de escolher palavras e me estaciono nesta imagem que criaste através das palavras.
    Apesar do olhar sem brilho...sentimos frio na espinha quando o medo ou o inusitado nos visita abruptamente, como quando descemos em uma montanha-russa ou decolamos e aterrissamos em um avião. Assim, embora a imagem dura, fico na esperança que as fases da lua e o descer e subir lhe causem mais que frio na espinha, lhe causem, no mínimo, gosto pela experiência.
    Beijão!
    Magna

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    1. Que nem eu aqui com o seu comentário, "Magnascote". Não tem outro jeito, a vida chama,
      convoca e não podemos rejeitar o seu chamado, temos que viver, experimentar, e aprender.
      Sua inferência me fez lembrar de um texto do Rosseau, em Os devaneios do caminhante solitário - Terceira Caminhada, "A experiência sempre instrui, reconheço-o: contudo, é proveitoso apenas para o que temos à nossa frente. No momento de morrer, haverá tempo de aprender como deveríamos ter vivido"?

      Essas indagações carregaremo-las, sempre! Acho...

      Um beijo grande, minha tão querida amiga, e uma ótima segunda!

      ;)

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  20. Não sabemos o que traz essa volta ao passado. A lua? A natureza linda, em uma noite fria? O filme roda devagar e, em algumas passagens, até sentimos vontade de pará-lo. Mas vai até o fim e é impossível não sentir o tempo e o arrepio que provoca a emoção das recordações.
    Não conheço o poeta, mas não perderia a oportunidade, diante de sua indicação.

    Bjs.

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    1. Um acorde, um cheiro, um pensamento, um desejo, uma vivência, a saudade, quem sabe? Só sabemos que a matéria de tudo é a lembrança...

      O Filipe é um poeta excepcional, conheça suas poesias, vais se estarrecer diante delas!

      Um beijão, querida, que prazer grande te ler aqui também!

      ;)

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  21. Santa Boca,

    Dizes com quem andas e te direi quem és. Teu lindo poema vem acompanhado de bela música de Chico e Tom e dos belos versos de Felipe Campos Melo. Dizer mais o quê? Apenas que foi uma combinação perfeita.

    Dimas

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  22. Que memória estranha e de aparente distância (folhas amarelecidas?) é esta, que transforma luar e perfume em lâmina e produz frio na espinha? Passado que não cessa de assaltar o presente, espectro que sempre ronda às noites escuras e frias, de dentro de nossa alma.
    Mais uma vez: certeiro.

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  23. Que memória estranha e de aparente distância (folhas amarelecidas?) é esta, que transforma luar e perfume em lâmina e produz frio na espinha? Passado que não cessa de assaltar o presente, espectro que sempre ronda às noites escuras e frias, de dentro de nossa alma.
    Mais uma vez: certeiro.

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  24. Já não bastavam as suas sempre belas palavras, ainda esta homenagem sentida a um grande poeta que é também um amigo.
    Beijinho:-)

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    1. O Filipe é um poeta supremo, então estar aqui é uma honra minha.

      Ana, querida, obrigada pela presença, sei que ando em falta, mas chego já no seu Chá!

      Um beijão!!

      ;)

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  25. Quantas vezes nada mais importa senão o nosso próprio recolhimento??? Belíssimo poema...

    Depois, adorei ver a citação do Filipe, cuja poiética admiro, além de fazer o favor de ser um amigo.

    Bjo :)

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Prazer tê-lo/a no Canto, obrigada pela delicadeza de dispor do seu tempo lendo-me. Seja bem-vindo/a!

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