quarta-feira, 9 de maio de 2007

Um aborto...


Viver a dor do aborto, talvez tenha sido a maior de todas as minhas dores. É uma dor que não fenece, é minha eterna companheira; invariavelmente chego às lágrimas ao pensar no destino extraviado do filho que nunca tive.
Quem já viveu essa dor sabe. Ter um filho dói, mas é uma dor que redunda na alegria pós-parto, na vida que se manifestou dentro de nós, e agora explode cá fora.
Um aborto não! Um aborto é uma dor que não tem cura. Nunca entendi por que se diz que um aborto espontâneo pode ser visto como natural?? Natural o processo de uma vida ser interrompida? Não vejo naturalidade em não termos mais dentro de nós o nosso maior desejo. Para no tempo certo, na maturidade fetal, crescer nesse mundo externo ao nosso útero. Crueldade! É isso que é.
Às vezes, a noite finda com um choro silente, apenas o travesseiro é testemunha das lágrimas que deságuam dos olhos meus, que nesse instante são os mais tristes do mundo.
Às vezes, a noite finda com um choro convulsivo, meu corpo treme incontrolável; nada me mantém esperançosa, nem mesmo os belos frutos que gerei.
Às vezes, à noite me deixa com as minhas mãos acariciando o meu ventre, buscando a vida que um dia lá se instalou... E se foi sem que eu quisesse... E balbucio lamentos de dor, pelo filho que perdi.
Carrego esse corte na alma, carrego essa sequidão em mim... É uma dor tão forte tão funda que nunca chega ao fim. A dor em queda livre... É um poço sem fundo.
Passa o tempo, passa a vida... Mas nunca chega o esquecimento do aborto que vivi.
Essa marca estará eternamente em mim. Indelével. Cravada “na minha espinha dorsal”

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