quarta-feira, 9 de maio de 2007

Chuva de Nanquim*
Querida Valéria…..

Gostaria de dizer que aqui não é o olhar profissional, não seria capaz de tê-lo, não domino nenhuma técnica na área da pictografia, ou da arte como um todo... Mas é o meu olhar de espectadora e sobretudo de amante, amante no sentido de que aprecio esse belo que você nos traz...
Você como a grande artista que é, parece nos dizer que cada um ponha a sua própria realidade na sua arte, na arte da Valéria, você permite que cada expectador a partir da sua mente, da sua história e experiência de vida, faça a relação entre a figuração, a abstração e a intenção... Que com a sua maestria estão ali para quem quiser acompanhar.
Reparando daqui, de fora do contexto e da realidade seminal, fica cá dentro de mim uma sensação boa de ruptura, de cisão, um corte entre a forma tradicional da arte do claustro do atelier, com uma arte aberta, participativa, fica dentro de mim a sensação do experimento, como se você estivesse a testar, a por em prova as sensações gerais, sinestésicas e como também tua forma de construção artística nesse trabalho, chega até ao outro, como ele reage ou interage nesse processo que é aparentemente livre, embora tu tenhas um objetivo não apenas no seu “modus faciendi”, no “modus operandis” mas no efeito, na forma que será recebida por cada um. Se levarmos em conta que a arte é um signo, um objeto que nos sugere várias interpretações, a hermenêutica na arte...
Nesse seu trabalho seqüencial especificamente as duas séries que se complementam dá-nos um desejo de compreender a estrutura da matéria, matéria táctil os elementos necessários para a realização do trabalho, como a matéria criativa... Uma sugestão de mudança do mundo, comportamental, mental. Tua performance é um convite à reflexão, sobre a vida, sobre o mundo: o macro e o micro. Como criadora de uma outra realidade, como investigadora de um outro mundo que nasceu a partir de um mundo já conhecido, amadurecido e convida-nos a mergulhar nesse processo onde não há limite, onde tudo é possível: um mundo quântico. Diria que sua série carrega o escopo da provocação; estamos num mundo com realidades e necessidades inventadas, você nos conclama a criar, a re-criar laços com o natural, com o que está conosco desde o começo do mundo, você consegue comunicar com seu trabalho não apenas o conjunto de idéias enumeradas:

1- Agente
2- Despir-se
3- Deitar
4- Deixar-se cobrir
5- Deixar-se descobrir
6- Receber a tinta
7- Deixar-se cobrir
8- Deixar-se descobrir
9- Levantar
10-Vestir-se, concentrar-se
Agente 2:
1- Início, concentração
2- Arrumar a mesa
3- Arrumar os materiais
4- Cobrir
5- Descobrir
6- ¿Chover¿
7- Cobrir e pressionar
8- Descobrir
9- Exibir as ¿marcas¿
10- Concentrar-se e declarar o fim do processo.
(Obviamente que o início foi pensar tal série).
2- O que poderíamos chamar de concretude da arte, como a atitude humana da arte. Gosto do suposto componente “rebeldia” no seu trabalho, do “subversivo”, o aspecto profundo dela que passa pelo conhecimento da técnica, pela intenção do trabalho, pela ética, pela crítica, pela investigação da matéria, pela investigação imaterial, como podemos observar, um mundo a viver, contemplar, refletir... O trabalho da artista superior à razão, ao tempo, ao preconceito, à rotina...
Escreveria uma tese aqui a respeito do seu trabalho, mas eu iria lhe cansar, sou de fato verborrágica, prolixa....rs....
Mas queria dizer também, que vi outro dia no Jô Soares, um artista daí do Rio de Janeiro, divulgando o trabalho dele, ao qual nominou: “Sudário”.... A realização do processo um pouco diferente do teu, mas o resultado bem semelhante. Você põe a tinta no ‘objeto’ que será depois exposto no tecido... Ele punha a tinta no tecido que cobria o objeto, passava um pequeno rolo e o resultado era como um raio-X do objeto.... Modo diferente, resultado semelhante...

Grande beijo:
Val ( Boca )

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